O discurso ensaiado pelo governador José Melo (Pros) e pelo prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) para tentar neutralizar os efeitos da reportagem do Fantástico serve mais para alimentar o ego dos defensores da reeleição do que para esclarecer os fatos. Ninguém duvida do interesse do ex-governador e ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), em tomar o cargo do adversário, o que, para quem conhece os dois, não mudaria a vida da população. Melo e Braga, como dizem nas redes sociais, são farinha do mesmo saco, saíram da mesma linhagem que povoa a política amazonense desde antes da redemocratização. Estiveram juntos por longos oito anos, durante os dois mandatos de Braga e permaneceram unidos até às vésperas da campanha eleitoral, quando Melo resolver enfrentar o ex-chefe nas urnas. A balela de que um está querendo o terceiro turno e a falácia de que é preciso respeitar a vontade do eleitor que deu a vitória a Melo nas urnas são uma maquiagem barata para tentar esconder os fatos. A verdade é que a prisão de Nair Queiroz Blair foi feita pela Polícia Federal e a investigação que levou à suspeita de que o dinheiro usado por ela para comprar votos saiu do caixa do governo através de um contrato da Copa do Mundo foi feita pelo Ministério Público. Não há armação nisso, como quer fazer crer José Melo e seu exército que bombardeia a opinião pública desde a sexta-feira. O que está em jogo, agora, e sobre o que a Justiça Eleitoral precisa se manifestar, é se houve ou não compra de votos e se as provas são suficientes para condenar os culpados. Tal julgamento precisa ser feito à luz da legislação eleitoral. A lei se sobrepõe à vontade do eleitor e não o contrário.
Curiosidades do contrato
O contrato feito por Dan Câmara com a Agência Nacional de Segurança e Defesa (ANS&D) guarda algumas curiosidades: primeira, foi feito com dispensa de licitação sem que aparecesse o motivo, uma vez que a ONG tem atividade totalmente alheia ao objeto do contrato; segundo, o pagamento de R$ 1 milhão foi feito no finalzinho de agosto de 2014, muito depois do fim da Copa do Mundo, mas em pleno calor da campanha eleitoral; terceiro, não há no Diário Oficial do Estado, pelo menos na busca na internet, qualquer publicação a respeito da tal ONG.
Curiosidades da ANS&D
Organização não governamental que aparece no centro da denúncia do Fantástico foi criada em 2011. A atividade econômica principal informada à Receita Federal é “Atividades associativas não especificadas anteriormente”, sendo que nada foi especificado nem antes e nem depois, porque no campo “atividades econômicas secundárias” aparece “Não informada”.
Evandro será nomeado?
Evandro Melo, suspeito de intermediar o contrato com a ONG de Nair Blair, espera ansioso sua nomeação como presidente do Comitê Estratégico de Acompanhamento da Gestão (Ceag), uma invenção dele próprio para se tornar o “gerentão” do governo do irmão. Diante das suspeitas, José Melo irá nomeá-lo para um cargo que, em tese, estará acima da Casa Civil, incumbida pelo governador de investigar o contrato denunciado?
“Minha Casa Civil”
Na estrutura do governo existe uma Controladoria Geral do Estado (CGE), com orçamento de R$ 3,8 milhões, que deveria se ocupar das boas práticas de gestão e das investigações dos malfeitos praticados pelos gestores públicos. Por que o governador José Melo não deu à Controladoria a missão de investigar o contrato da Agência Nacional de Segurança e Defesa e passou a missão à “minha Casa Civil”?
Despejo em Barcelos
O deputado Serafim Corrêa (PSB) protocolou na Defensoria Pública da União, nesta segunda-feira, 9, documento pedindo uma solução negociada para o despejo de 700 famílias do município de Barcelos. Uma decisão da Justiça Federal determinou que elas desocupem uma área que abrange quatro bairros da sede do município, que pertence à Aeronáutica.?
‘Sonhar não custa nada’
O vereador Waldemir José (PT) apresentou requerimento na Câmara Municipal de Manaus para convocar os ex-prefeitos Serafim Corrêa (PSB), Amazonino Mendes (PDT) e o atual Arthur Virgílio Neto (PSDB) para uma acareação sobre as dívidas herdadas de antecessores. A intenção é boa, mas a iniciativa, além de tardia, tem pouquíssimas chances de prosperar, porque precisa de aprovação do plenário. A base de Arthur não vai querer expô-lo.