“Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia” A frase é de Guimarães Rosa, e bem poderia servir de mantra no momento atual. Pois, se não somente a situação política é catastrófica, os reflexos populares demonstram uma realidade pantanosa dada a condição de mediocridade reinante, fruto de um padrão de educação a que o cidadão foi submetido. Política sempre foi um assunto menor, em dado momento, porém, pululam nas diversas mídias os mais estapafúrdios especialistas. O assunto está na boca de todos, embora pouquíssimos sensatos tenham dado as caras. Não que se deva cobrar erudição política aristotélica para os dizeres que se atropelam, contudo vemos que os dizeres vindos de grupos que “reivindicam algo”, demonstram que a educação do país é totalmente incompatível com a demanda civilizatória esperada. A consciência precisa urgentemente se emancipar e sair da menoridade na qual se encontra. Tal situação ainda alarma quando tal despreparo vem dos profissionais da imprensa, os tais jornalistas, que recebem por vezes o título aloprado de “formador de opinião”, supondo que ninguém consegue formar a própria por sua conta e risco. O círculo é vicioso pois os formadores são, de fato, reformadores da crítica.
Não é preciso muito para acabar com o mito da imparcialidade jornalística. Como, entretanto, o intuito deste ensaio se resume em denunciar o baixo nível intelectual predominante, presente sobretudo daqueles que tem a responsabilidade de alimentar o senso comum, cabe deformar o mito da formação de pensadores.
O grande número de manifestantes que desembarca nas ruas precisa ter seu real significado investigado. O fenômeno não revela necessariamente maior politização das massas, nem sequer maior tomada de consciência por um grupo significativo. De modo geral, as reivindicações mais comuns não nos dão base para uma postura otimista.
Não se trata aqui de desmerecer o direito as manifestações, mas convidar o leitor a questionar o que tem sido dito e feito nesse momento imprescindível, inadiável é inigualável de nossa história. Temos razões objetivas de suspeitar de motivações aparentemente altruístas e efetivamente obscuras, com abastecendo um ódio de classe numa orquestração sintomática. Lembremos que o buraco é sempre mais embaixo. E a aparência, desde as cavernas platônicas, rotineiramente, se distancia da essência. Portanto, pensemos!
Cabe aqui fazer uma comparação entre corrupção e câncer: ninguém acha bom que esse tipo de mal aconteça. Sua causa primeira deve ser investigada, e nela própria, eliminada. Caso contrário, com sua fluência continuada, os males que causam vão tomando proporções cada vez maiores, e se espalhando pelas outras estruturas indefesas. Ninguém é a favor do câncer assim como ninguém é a favor da corrupção. Até mesmo o político mais corrupto, se perguntado, no auge de sua racionalidade, reconhecerá que a corrupção é um mal em si, algo muito ruim.
Marchar contra a corrupção é ter um discurso vazio. Não vejo de fato uma briga por pautas, projetos e leis, mas sim uma busca desesperada por uma ordem que nunca existiu! Pelo menos não na totalidade do oceano social. Nem durante o percurso da história movida pela luta de classes. Individualizar ou partidarizar a patologia da corrupção com um moralismo caolho, é esconder a natureza do fenômeno que emerge dos defeitos estruturais da máquina pública, de maneira histórica e universal. Por isso é preciso que nossas instituições se mostrem agora eficientes, neutras de interesses, e subordinada à Constituição vigente desde 1988, quando o país retomou o Estado de Direito, sobretudo no momento de investigar e julgar seja lá quem for, de forma isenta e equilibrada. Isto, na realidade desta travessia caolha, não vem se mostrando como verdade prática. Voltaremos…
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