Dado o fim do ciclo do modo petista de gestão capitalista, inicia-se a ascensão de um poder que ignora os mais básicos direitos de cidadania que, a despeito de suas contradições, poderiam ser chamados de democráticos.
O sistema político em vigor carrega esse nome, pois se contrapõe ao período de ditadura, e foi inaugurado pela ocorrência de uma Assembleia Constituinte. Entretanto, todas características deste sistema se contrapõe, firmemente, a qualquer sentido real de democracia.
A Constituição de 1988 não acompanhou a evolução dos tempos e em nome dela as maiores barbaridades dos donos do poder são invocados como exercício da tal democracia. Seria dramático se não fosse um surto hilário…
Entre os abusos está o ataque, mais direto, à classe trabalhadora, como consequência do problemático e traumático impedimento da ex-presidente, causa e consequência da mesma trama dita democrática, exacerbada e justificada dentro do chamado rito constitucional.
Michel Temer, um fantoche imposto e impostor, deixa seu papel de funcionário da burguesia cada vez mais claro. E mostra às forças progressistas o preço da teimosia em enfrentar as regras, paradigmas e exigências do poder.
O projeto neoliberal de assalto do patrimônio público com o tempo se tornará mais evidente, posto que já vem sendo planejado há tempos. A História revela alguns ensaios de sua implantação, por via das urnas – onde foi derrotado pela vontade popular.
E no momento que não havia mais espaço para adiá-lo, outro jeito não houve senão o de promover uma ruptura aloprada de colocá-lo em vigor a qualquer custo. Em não havendo adesão popular, outra maneira foi a manobra invocada pelo expediente constitucional, à revelia dos apelos e conquistas da população.
Felizmente, a dialética dos contrários ainda nos garante a capacidade do movimento histórico pela aparição do contraditório: no caminhar do processo cujo aquele que menos possui é tomado de assalto por aqueles que mais possuem, abre-se a possibilidade do contra ataque subversivo.
Desde o começo da crise mundial, pipocaram explosões populares de subversão à ordem estabelecida; aqui no Brasil ainda estamos tímidos, discretos e desambiciosos.
A classe trabalhadora ainda não atinou que está na reta dessa tomada – nada mais compreensível num país que a educação é sucateada e as grandes fontes de informação são quase que assumidamente um partido político.
Isto fica claro ao constatar que os capítulos do jornalismo de horário nobre foram muito mais capazes de convocar e mobilizar as massas do que o próprio governo do PT dito de esquerda.
As imprevistas chamas que foram ateadas nas ruas do Brasil desde 2013 ainda não se apagaram, apenas tiveram seu calor diminuído ou deslocado. Isto tudo por uma melancolia caracterizada pela sensação de incapacidade diante da dificuldade.
Esse fogo carrega em si o significado contundente de que o tempo acabou, não há mais nada a se tirar ou usar dessa configuração, narrativa ou espaço. O fogo marca a destruição daquilo que sempre teve data de validade.
Esse fogo destrói o que vier pela frente, e tomara que queime essa velha e ingênua esquerda que não tem mais espaço nessa dança. Este é o paradoxo que descreve a autonegação no contexto da autopreservação. Literalmente, a luta continua.
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