No mundo corporativo o papel de diretor é algo bem definido, é um cargo de planejamento e gestão dos recursos que lhes são disponibilizados, de controle e organização da atuação dos vários setores sob sua responsabilidade. Cabe ao diretor cobrar de seus coordenadores o bom desempenho na parte operacional. Em geral profissionais que chegam à direção de uma empresa tem reconhecida competência adquirida a partir de uma larga experiência profissional.
Há competências básicas para qualquer diretor independentemente do porte da empresa que dirija: saber planejar; interpretar de maneira adequada gráficos, indicadores e pesquisas; conseguir motivar seus coordenadores; mediar conflitos na equipe e, acima de tudo, conhecer os processos inerentes aquilo que sua empresa se propõe fazer.
Apesar de a comparação entre escola e empresa ser um campo de batalha ideológica dentro da educação é válido se refletir que há sim semelhanças entre as duas, como também há dissemelhanças bem claras. O limite da comparação deve ser dado pelo conhecimento dos objetivos que cada uma tem.
Neste sentido, há dois equívocos possíveis quando se compara as duas: o primeiro é achar que escola e empresa podem se equivaler quanto a seus propósitos, o segundo é achar que não existe nenhum ponto de aproximação na atuação de ambas e, portanto, seus desafios são totalmente distintos.
Escolas hoje recebem recurso do governo federal de forma direta através dos Programas do Ensino Médio Inovador (PROEMI) e Mais Educação, além de uma pequena verba estadual depositada todos os anos cuja denominação muda de estado para estado, mas que em geral é chamada de fundo rotativo.
Os conselhos escolares, responsáveis pela administração dos recursos, tem personalidade jurídica possuindo CNPJ. Os conselhos fazem tomadas de preço com empresas para prestação de serviços ou aquisição de produtos, movimentam a conta bancária da escola, recebem notas fiscais e precisam fazer sua contabilidade na hora da prestação de contas. Há então uma rotina que inegavelmente se assemelha a de qualquer empresa e, sendo assim, deve ser eficiente.
Em meio a tudo isso está o diretor da escola e na sua atuação encontramos um outro grande ponto de aproximação entre a gestão escolar e a empresarial. É fácil notar isso quando se mergulha em sua rotina olhando para algumas de suas atribuições administrativas: implementar os programas federais em sua unidade de ensino; planejar junto com o conselho escolar o gasto do recurso recebido; aplicar o recurso; prestar conta dos gastos; analisar o desempenho de sua escola nas avaliações externas; planejar intervenções a partir da análise dos resultados; participar de reuniões com os seus coordenadores, professores, pais e junto a sua secretaria de educação; analisar relatórios e mediar conflitos em sua equipe.
Certamente um executivo lendo esta lista de atribuições se identificará facilmente enxergando nela a sua rotina de trabalho. Contudo, executivos de grandes empresas tem boa estrutura de trabalho, bons salários e cursos de formação (os MBA’s) pagos pela instituição em que trabalham. Já nossos diretores de escola pública tem a situação inversa a essa, há estados como o do Pará, por exemplo, em que a gratificação pela atuação como diretor não chega a R$ 500,00 (quinhentos reais), sem contar as condições precárias de trabalho.
Em todo o Brasil, é necessário urgentemente um processo de valorização dos diretores, não só por uma questão de motivação, mas principalmente por uma questão de justiça e reconhecimento do papel fundamental que eles tem no sistema educacional. Certamente instrumentos também devem ser criados para avaliar sua atuação, e assim bonificar de forma diferenciada a atuação das direções. É preciso se reconhecer as boas gestões, transformá-las em exemplos e gratifica-las por isso.
Esta semana em um seminário promovido pelo Instituto Unibanco com o tema: “Gestão escolar”, o ministro da educação, Roberto Janine, anunciou que o MEC (Ministério da Educação) irá lançar um programa de formação de diretores para formação de competências básicas: analise de dados, mediação de conflitos e administração de equipes. É claro que a iniciativa é muito bem-vinda tendo em vista que a formação inicial dos diretores, que em geral são pedagogos ou professores, não contempla todas essas dimensões e seus respectivos desdobramentos.
Contudo, não se pode esquecer também um outro ponto crucial: a falta de adoção de critérios técnicos na hora de se escolher um diretor, o que em muitos estados é feito levando-se em conta principalmente aspectos políticos. Compromete-se dessa forma a gestão por conta da falta de perfil dos indivíduos que são conduzidos às direções. É preciso que os estados revejam isso urgentemente, pois de nada adiantará os demais esforços se este obstáculo não for superado.
George Castro é supervisor do Pacto Nacional pelo Fortalecimen to do Ensino Médio;
diretor executivo da Macedo de Castro consultoria educacional; ex‐professor da Universidade
Federal do Pará e ex‐diretor do ensino médio e educação profis sional do estado do Pará.
Contato: [email protected]