Nos últimos dias temos acompanhado quase que diariamente o esforço de José Eduardo Cardozo em defender a presidente Dilma Roussef, suas sustentações orais feitas na comissão de impeachment, no plenário da Câmara dos Deputados e no Supremo Tribunal Federal (STF) tem chamado a atenção pela riqueza de sua retórica. Na última sexta-feira, 15, em uma sessão extraordinária no STF em que teve recusado o pedido a palavra, ouviu dos ministros daquela casa um dos maiores elogios que um advogado poderia ouvir, que lamentavam que por força do cumprimento do regimento tivessem que se privar da sua oratória.
Formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), onde fez mestrado e doutorado, o professor de direito constitucional Eduardo Cardozo domina como poucos uma arte essencial para quem deseja expor seus argumentos de maneira convincente: a retórica. Sua fala é sempre feita com a sinceridade de quem acredita piamente na tese que defende, ao mesmo tempo que seu discurso transmite a emoção necessária para prender a atenção do ouvinte ele é de uma racionalidade invejável, e tudo isso sem em nenhum momento elevar o tom de voz de maneira excessiva, os gestos são comedidos e sempre utilizados para dar a ênfase necessária ao que está sendo dito naquele momento.
Engana-se quem acha que esta competência é algo simples, fruto apenas de um dom natural de alguém que como se diz no popular “é bom de papo”, a retórica já é objeto de estudo a mais de dois mil anos, a primeira obra a tratar do assunto foi a do filósofo grego Aristóteles, no século IV antes de Cristo, nos três volumes de sua obra ele aponta as bases de um bom discurso. Já no éculo XIX, Arthur Shopenhauer, escreveu a obra: Como vencer um debate sem precisar ter razão, em que expõe 38 estratégias de como se colocar em vantagem em uma discussão, mesmo a razão estando com a outra parte, um livro perturbador que traz proposições muito questionáveis do ponto de vista ético, mas que se revelam eficazes em atenderem ao seu propósito.
Contraditoriamente a necessidade crescente de bons oradores que a democracia moderna nos trouxe, a retórica vem sendo, desde a idade média quando era ensinada nas universidades, abandonada pelo mundo acadêmico a ponto de ser ignorada nos currículos do ensino superior, até mesmo em cursos como o de direito, onde se nota que há um esforço muito maior em fazer com que os futuros bacharéis sejam capazes de escrever bem do que de falar bem e, sendo assim, não se observa um grande empenho institucional a fim de fazer com que os graduandos desenvolvam as habilidades necessárias para uma boa sustentação oral.
Infelizmente, por esse motivo grandes oradores encontram-se em extinção, é fácil se perceber isso quando se observa o discurso de deputados e senadores que sobem na tribuna da câmara ou do senado, são discursos rasos, evasivos, que quase sempre ligam o nada ao lugar nenhum, muitos apelam para a gritaria e outros para o sentimentalismo barato, são momentos sofríveis que acabam se configurando mais como autopromoção dos parlamentares, que gravam suas falas e depois expõe nas redes sociais, do que como contribuições para debates de pautas relevantes para o país.
O maior exemplo de que isso faz muita falta para uma figura pública é a nossa presidente Dilma, famosa por alguns discursos quase inteligíveis em que há momentos em que não se consegue entender absolutamente nada do que ela quer dizer, tamanha a desconexão entre as ideias expostas e a falta de um objetivo claro a ser atingido, um pecado mortal para uma chefe de estado que precisa ter segurança para poder se fazer acreditar, talvez também a isso se possa creditar a impopularidade crescente que ela vem enfrentando.