A história registra dois acontecimentos no século XVIII, que alteraram a atividade política e o processo civilizatório da humanidade: a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789). Por trás de ambas estavam o inconformismo com a injustiça social caracterizada pela voracidade na cobrança de impostos, sem retorno algum, além da falta de democracia.
A Revolução Americana levou à independência dos Estados Unidos e a da França à queda da Monarquia, acontecimentos que deram origem ao modelo de democracia representativa que temos atualmente, uma evolução da democracia direta da Grécia Antiga.
Passados mais de dois séculos o modelo parece não atender mais as expectativas de grande parte da humanidade. No Brasil em particular, encontra-se totalmente desgastado, onde o povo, apesar do voto livre, tende a não mais sentir-se representado pelos que elege. O parlamento, nos três níveis, é contestado e chega a ser motivo de chacota nas redes sociais.
Enquanto isso, em todo País se gasta muita grana em busca do poder, como fica claro nos momentos de eleição, mas de fato, os gastos começam, à custa da “Viúva”, no dia imediatamente posterior à posse dos governantes eleitos, quando milionárias campanhas publicitárias invadem nossas casas, em explícito preparo à reeleição, numa prova evidente de que a nossa cultura política não admite uma convivência ética com esse instituto.
De outro modo, regras frouxas permitem a proliferação de partidos políticos que, por puro oportunismo, entram no jogo eleitoral barganhando segundos no tempo de televisão, em troca de um naco do poder e da verba do fundo partidário.
Todos querem estar no governo. É lá que está a chave do cofre. Oposicionistas se transformam em situacionistas ferrenhos em busca de fortalecer-se financeiramente visando o próximo pleito, pois a disputa de qualquer cargo eletivo no nosso País custa uma fortuna.
O resultado desse jogo é que a oposição definha ano após ano, descaracterizando a finalidade fiscalizadora do Parlamento a obumbrar a sua existência como poder independente. Além de contribuir à já instituída corrupção deslavada.
Há, ainda, o danoso efeito colateral de inibir o surgimento de novas lideranças desatreladas do caciquismo político, por absoluta incapacidade financeira. Com isso, velhos paradigmas não são quebrados e a política, do vocábulo “renovar”, aproveita apenas o “fazer de novo; repetir”. Renovação é mera figura de retórica, pois se restringe à faixa etária e nunca às ideias.
Essa rotina favorece a mesmice, manda às favas qualquer compromisso ético e consolida o “Em política tudo é possível”, onde se permite, por exemplo, uma mesma pessoa ser Vice-Governador e Ministro de Estado, ao mesmo tempo, por mera conivência política.
Nem mesmo a explicita insatisfação de parcela considerável da população com os políticos, estimula uma reação capaz de modificar essa realidade. Reformas necessárias e urgentes são relegadas, postura característica dos que se sentem seguros e acreditam que podem eternizar-se no poder à custa de bazófias e dos descabidos adesismos pobres de moral.
Ainda não perceberam que está em curso a maior revolução de todos os tempos. Ela é diferente. Não há lideranças definidas, não é planejada, não tem origem em ideologias e nem estratégias ou causas aparentes. Suas armas são poderosas (pcs, notebooks, tabletes e smartphones), com o que os seus bem treinados agentes estão quebrando paradigmas.
Trata-se de um novo ser humano que começou a nascer nos anos 1990, exatamente quando a internet e a TV a cabo se popularizavam e o Brasil universalizava o ensino fundamental. Foram para a escola com mais de três mil horas de televisão. Cresceram nesse ambiente e nele vivem hoje em intensa comunicação. Têm amigos ao redor do mundo. Com eles trocam experiências, alargam suas fronteiras e desenvolvem novos conceitos de vida e de nacionalidade.
Todo conhecimento acumulado pela humanidade, está disponível, instantaneamente, nas telas das suas armas, o que, de certa forma, compensa o antiquado ensino que recebem.
Pois bem, esse novo ser humano já é eleitor e começou a votar em 2006. Cerca de “Um milhão e quinhentos mil” deles, desde então, anualmente se credenciam como tal. Nas eleições deste ano já serão mais de 12 milhões, o que representa aproximadamente 8% do eleitorado. Mas o efeito político é muito maior, pois estão substituindo parte dos que morrem, teoricamente menos esclarecidos. Quando a eles se junta a geração da década de 1980 o poder deles aumenta consideravelmente.
Juntos ganharam as ruas em 2013 na maior manifestação popular do país de todos os tempos. Mas é bom deixar claro que esse não é o forte deles. Eles estão em redes. Juntam-se e se separam por causas que justifiquem os seus interesses. Nas duas próximas eleições, pela primeira vez na sua história, o Brasil terá a grande maioria do seu eleitorado com boa qualificação, portanto, em condições de escolher melhor os seus representantes e defender com conhecimento os seus interesses, nesse futuro, em avassaladoras redes de protestos.
Como conquistá-los ninguém sabe. Mas claro está que nunca será com a estratégia da promessa fácil, das práticas condenáveis e muito menos com a mesmice e os risíveis apelos da atual campanha. Muito menos por meio da TV, instrumento por onde, como se disse, começaram. Atualmente eles utilizam outras telas, o que, em pouco tempo, tornará inócua a briga por tempo nesse veículo, que, aliás, vai ter de reinventar-se se quiser sobreviver.
Eles querem mudanças. Querem mudar a forma de fazer política. Querem trazer para onde moram as melhores práticas do mundo desenvolvido que já conhecem muito bem no mundo virtual. Quem conseguir encaixar um discurso nessa direção poderá, talvez, conquistá-los.
Atualmente, mais perto disso, parece estar a candidata Marina. Assim dizem as pesquisas, quando indicam que ela tem a preferência dos jovens na faixa etária entre 16 e 37 anos. E mais ainda, entre os de 16 a 24 anos, sua liderança é absolutíssima.
É bom alertar, porém, que eles não têm compromissos ideológicos. Suas preferências estarão sempre atreladas a resultados concretos.
“Esses jovens de hoje não querem saber de nada”, dizem os velhos. É verdade! Não querem saber nada desse mundo velho. Já passou. Não é a praia deles. Estão noutra. Tá ligado?
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