Sou um fã incondicional e seguidor dos ensinamentos de Cremilda Medina, autora de “Entrevista, o diálogo possível”. A pesquisadora prega que a boa entrevista é aquela em que entrevistador e entrevistado conseguem estabelecer um diálogo que resulte na oferta de conteúdo de interesse público para quem a lê ou assiste. Não foi exatamente isso o que ocorreu nas entrevistas conduzidas pelo apresentador do Jornal Nacional, Willian Bonner, auxiliado pela apresentadora Patrícia Poeta, principalmente na sabatina da presidente Dilma Rousseff (PT).
Nas três entrevistas levadas ao ar, até aqui, o que se viu foi uma tentativa de enquadrar o entrevistado, colocando-o numa “saia-justa”. Não se trata de questionar os temas indagados pelos entrevistadores, mas a forma como eles tentavam forçar o candidato a responder suas perguntas, mesmo quando o convidado demonstra a disposição de fugir do assunto.
No caso da presidente Dilma Rousseff, a ânsia de Bonner em “levar vantagem” sobre a candidata tonou a entrevista tensa e enfadonha. De um lado, as perguntas incisivas do apresentador e de outro, as respostas evasivas e prolixas da entrevistada.
Não houve diálogo. Bonner perguntava sobre escândalo nos ministérios e Dilma falava sobre projetos e programas implementados pelo seu governo e do governo de Lula; Bonner quis saber sobre o comportamento do partido dela, o PT, diante do julgamento do mensalão, que tratou os seus condenados como heróis, e Dilma saiu-se com a resposta de que não comentava decisão de outro poder.
Bonner e Poeta tentavam constranger Dilma com perguntas indigestas e Dilma voltava à resposta cortada por uma nova pergunta, e deixava de responder o questionamento. Foi assim quando Bonner quis saber se as trocas de ministros envolvidos em corrupção por nomes do mesmo partido não era trocar seis por meia dúzia. Dilma respondeu que nem todos os denunciados foram condenados, porque em alguns casos as denúncias não se comprovaram.
Em determinado momento, Dilma passou a dominar a palavra, como é natural numa entrevista, e os apresentadores passaram a atropelar a fala da convidada. No tema economia, Bonner chegou mesmo a interromper as respostas e o diálogo quase descamba para uma discussão, sob o ar de protesto de Dilma.
Ao fim, a presidente chegou a dizer, em meio à reclamação dos entrevistadores de que o tempo estava estourado: “Eu compreendo e por isso suspendo minha fala”.
No caso de Aécio Neves e Eduardo Campos, houve perguntas duras e espinhosas, principalmente para o segundo, mas o candidato ajudou a manter um diálogo mínimo. Dilma, ao contrário, não conseguiu se desarmar.
Como Bonner faz questão de dizer que as entrevistas são mesmo para tratar de temas polêmicos das candidaturas, e tenta a todo custo empurrar a sequência de perguntas, sem levar em conta que o entrevistado tem vontade própria e só responde aquilo que lhe convêm. É por isso que Medina alerta para a necessidade do estabelecimento de um diálogo em que todos saem ganhando: entrevistador, entrevistado e telespectador (no caso da televisão).
Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
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