Estou no grupo das pessoas favoráveis ao desenvolvimento econômico. Vez por outra observo afirmações que precisamos levar o desenvolvimento para o interior do Amazonas. Penso que isso é uma falácia, pois não se leva desenvolvimento para lugar algum. O caminho para o desenvolvimento é da localidade e de seus habitantes, nativos ou imigrantes, com os recursos locais ou vindos de fora, que trabalharão com disciplina e afinco, de Sol a Sol, e o plantio disciplinado com algum risco que construirá o desenvolvimento econômico. Em geral, ninguém trabalha para outro ganhar dinheiro.
Outra sociedade não apoia o desenvolvimento de uma localidade que não seja a sua. Quando muito, o apoio é no discurso, mas, na prática, é para extrair recursos da região menos desenvolvida, é só perceber o olhar do Império-Colônia do passado ou do presente. Então, como desenvolver uma região, quando há economistas que chegaram a afirmar que seria um mito desenvolver?
Enquanto uma sociedade ficar esperando a vinda de um salvador de fora para realizar o seu próprio desenvolvimento, ela ficará fadada ao eterno posicionamento subserviente e subdesenvolvido. Entendo que a solução passa pela iniciativa da própria sociedade, perseguindo sua autodeterminação e produzindo as suas vocações e os seus talentos, por meio da ciência, tecnologia e inovação. Não há atalhos e não será em menos de uma geração que uma região começará a descolar de uma condição de subdesenvolvimento. Não será em menos de duas gerações que se terá uma riqueza real e não efêmera, salvo em casos muito excepcionais.
Colocando os pés no chão amazônico, há uma biodiversidade de oportunidades, que precisam enfrentar as barreiras de toda a ordem, pois quem é rico ou desenvolvido não facilitará o acesso ao seu Clube, colocando toda a sorte de dificuldades. É necessário enfrentar cada uma e todas as barreiras que não cessarão de aparecer no dia a dia, sob os mais ardis disfarces, como ONGs, Fundações, Tribos, Agências Reguladoras ou qualquer outra instituição legítima ou não, influenciada de alguma forma, que se sentirá no direito de impedir o desenvolvimento daquela sociedade.
O que se pode produzir no interior do Amazonas ou de qualquer estado que não se pode produzir tão competitivamente em outra localidade? Esta é a pergunta que precisa ser respondida. Não faltam respostas e não deveria faltar recurso e vontade para atender aos talentos e vocações de cada localidade. Assim, o interior se desenvolverá.
Há condicionantes para isso: energia elétrica (que pode vir do Sol, da água, dos ventos), telecomunicações (Internet) e transporte (infraestrutura e operadores). Sem estes elementos, seguirá a ser um sonho tão distante quanto a imensidão da Amazônia. Comparando-a, para simplificar o raciocínio: apenas o estado do Amazonas é maior que toda a região Nordeste. Especular sobre a possibilidade de soluções que não respeitem a região, suas dimensões e o conjunto de oportunidades possíveis é desprezar uma imensidão de oportunidades e esvaziar as possibilidades de sucesso.
Precisamos nos tornar adultos, para compreender que não virá alguém nos ajudar. É preciso largar o pensamento infantil que há alguém de outra região para fazer ações para o meu interesse. Ou você já recebeu alguém na porta de sua casa tentando verdadeiramente lhe ajudar a varrer a casa ou a comprar uma geladeira? É mais fácil achar alguém tentando levar vantagem. A ajuda necessária é a remoção das barreiras que impendem a produção.
(*) Professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), Diretor da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas).
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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