MANAUS – Estamos nos acostumando com a barbárie. É assustador como a nossa humanidade tem perdido o senso de humanidade. A máxima “olho por olho, dente por dente” tem prevalecido e o bom senso, sucumbido. É assustador como não nos importamos com a vida humana.
No ano passado, no Brasil, foram registradas pela polícia 59.103 pessoas assinadas, uma em cada 9 minutos, em média. No trânsito, morrem, em média, 47 mil pessoas por ano no país. A maioria parte dessas mortes nem chegam a virar notícia, pela falta de novidade. Estamos acostumados a ver isso.
Mas o que mais assusta é ver uma população inerte e até apoiando atos de barbárie como o que ocorreu no município do Borba, no último domingo. Um jovem de 18 anos, suspeito de estuprar e matar uma adolescente de 16 anos, foi retirado de um quartel da Polícia Militar, linchado em via pública e o corpo queimado em uma fogueira no meio da rua.
Nas redes sociais, não faltaram manifestações de apoio às pessoas que praticaram o crime. Dez suspeitos de praticaram a barbárie foram identificadas pela polícia, e estão sendo tratadas como heróis em comentários no Facebook. Nos comentários, xingam a Justiça e exaltam a “justiça com as próprias mãos”. Nisso consiste a barbárie.
Um crime não pode ser punido com outro crime. Se o jovem de 18 anos estuprou e matou uma adolescente, deveria, sim, ser julgado, condenado e pagar pelo crime que cometeu.
O sentimento de revolta é natural. Qualquer um se revolta com um crime como o da adolescente. Imagino como a família se sente, a dor da perda é imensa. Mas nada justifica a barbárie.
No caso de Borba, houve uma falha do Estado, da segurança pública, da polícia, que não foi capaz de garantir a integridade do preso, como manda a Constituição e as leis brasileiras.
Não se trata aqui de defender uma pessoa, mas de defender um princípio: o direito à vida. Permitir a barbárie pode nos levar todos a uma situação de insegurança. Amanhã, um inocente pode morrer ao ser confundido com um criminoso, como já ocorreu Brasil afora recentemente, inclusive com o uso das redes sociais.
A cultura da paz precisa ser resgatada no Brasil. Mas o que vemos é um caminho inverso. E isso causa medo.
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