Se a Amazônia fosse uma pequena empresa precisando criar riquezas haveriam muitos interessados em investir nesta companhia, se houvessem chances reais de gerar resultados econômicos. Não haveria motivos para ser diferente. Entretanto, por qual razão não há uma quantidade enorme de capital de risco fazendo negócios na Amazônia? Tenho a impressão é que esta empresa não está pronta.
Em 2017 apenas para o negócio de startups de saúde ligadas ao meio digital foram gastos quase US$ 6 bilhões, segundo dados da Rock Health; GBI Healthy e McKinsey. A projeção para 2018 já indica mais de US$ 6 bilhões de investimentos. Por que estamos fora deste mercado, se existe a hipótese que haveria na Amazônia a cura para muitas doenças?
Um método equivocado de gestão na nossa mega startup. Apenas isso explica de maneira simples: não estamos gerindo a Amazônia como uma oportunidade. No máximo estamos tratando-a como um problema, criando diversas oportunidades para sermos roubados, pois espalhamos aos quatro ventos que há uma biodiversidade riquíssima. Temos um tesouro e não usamos o tesouro. Como divulgamos que há o tesouro, então somos roubados pouco a pouco. Exemplos: borracha – quando as seringueiras foram levadas para a Malásia; tambaqui – quando o pescado foi levado para a China, hoje maior produtor global. Tomara que ao menos não importemos peixes, ao contrário do que se dá com a borracha.
É necessário que se criem as condições de fatores que estimulem a criação e produção de produtos com origem na biodiversidade amazônica, com estímulo e apoio para qualquer um. Precisamos criar nossas empresas que faturem mais de US$ 1 bilhão a partir do bioma da região. Precisamos de nossos Unicórnios.
O caminho que proponho é a definição de cinco produtos estratégicos em cada cidade da região, onde grupos de cientistas e empresários tenham todas as condições legais possíveis e necessárias para investir e realizar rapidamente, com respeito ao meio ambiente, produtos onde existam grandes potenciais econômicos. Apenas o Amazonas possui 62 municípios em uma área superior ao Nordeste. Será que esta startup não arrecadará capital suficiente? Não tenho dúvidas, se as condições forem as apropriadas para ingresso de capital.
Fica o convite para os reguladores: a criação de um modelo de gestão para que cada município da Amazônia atraia e monte seu time de empresários e cientistas para fazer negócios a partir do uso responsável e racional dos recursos da floresta. A administração para garantir a preservação da riqueza deverá ser de técnicos do município, conhecedores das dificuldades e características de cada região. Há um mundo para ser explorado. Para o curto prazo: turismo e para o longo prazo remédios, passando por toda a biodiversidade de oportunidades.
No ano da Olimpíada o Brasil atraiu 6,6 milhões de turistas. Este foi aproximadamente o número da Indonésia em 2009. Em 2017 o número deles chegou a 14 milhões de estrangeiros. A quantidade de recursos e oportunidades que desperdiçamos a cada dia é assustadora. Quem sabe se tratarmos a Amazônia como nossa startup possamos mudar sua forma de gestão com agilidade. Precisamos disso.
Augusto César Barreto Rocha é doutor em Engenharia de Transportes (COPPE/UFRJ), professor da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), diretor adjunto da FIEAM, onde é responsável pelas Coordenadorias de Infraestrutura, Transporte e Logística.
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